Primeira classe quase desaparece nas companhias aéreas

Viajar na cabine de primeira classe de um avião comercial é um privilégio que poucos passageiros têm acesso. Além da barreira do preço, com bilhetes que beiram os R$ 20.000, esses espaços têm poucos assentos, geralmente menos de 10 “leitos”. No entanto, nos últimos anos esse luxo aéreo vem perdendo espaço e em muitos países, como no Brasil, foi completamente extinto pelas companhias aéreas.

“A qualidade da classe executiva melhorou muito nos últimos anos e isso fez a procura pela primeira classe diminuir. Primeiro, as cabines foram reduzidas e depois acabaram extintas em determinadas rotas, devido a baixa demanda”, explicou Dilson Verçosa Junior, diretor regional de vendas da American Airlines, uma das poucas empresas que ainda oferecem voos em primeira classe para o Brasil – a AA opera o Boeing 777 com 10 assentos de primeira classe na rota São Paulo – Nova York.

“Esse tipo de serviço hoje compete com voos fretados em aviões executivos. A tendência é que a primeira classe diminua, mas ela não vai acabar”, prevê o diretor da American Airlines.

Quem viaja de primeira classe?

A primeira classe é vista como um luxo, mas ela também funciona principalmente como ferramenta de trabalho para altos executivos que viajam constantemente. O assento nesta parte do avião reclina até virar uma cama, onde o passageiro pode dormir como se estivesse em casa e chegar ao destino do outro lado do mundo descansado. Ou então, aproveitando a conexão de internet via satélite, pode continuar trabalhando durante o voo. “No Brasil, esse serviço é adquirido na maioria dos casos por clientes corporativos”, revelou Verçosa.

A cabine de alto luxo é sempre instalada da parte frontal do avião, justamente a mais silenciosa. Além das diversas possibilidades de ajuste da poltrona, os passageiros de primeira classe viajam em divisórias, para maior privacidade, os chamados “leitos”. Já o serviço de bordo oferece diversas opções de comidas e bebidas para diferentes gostos e paladares, e mais requintadas que as oferecidas no “fundão” da aeronave. Algumas companhias ainda presenteiam os ocupantes com pijamas e pantufas especiais.

O sistema de entretenimento basicamente é o mesmo oferecido nas demais classes da aeronave, mas na “first class” a tela é bem maior, assim como a resolução, e a qualidade de som dos fones é superior. Outro diferencial é o “carinho” dos comissários, que atendem prontamente os poucos e exigentes passageiros de primeira classe.

Os passageiros da cabine “premium” ainda têm facilidades como prioridade no embarque e desembarque, possibilidade de levar mais bagagens e raramente enfrentam filas nos toaletes da aeronave.

Porém, boa parte das qualidades da cabine de primeira classe migraram para a executiva, levando junto muitos dos antigos passageiros mais abastados.

Evolução da classe executiva

A primeira companhia aérea que equipou suas aeronaves com classes executivas foi a Qantas, da Austrália, em 1979. A empresa criou a nova seção entre a primeira classe e a econômica, também levando em consideração as zonas mais silenciosas do avião. Esses eram também os últimos capítulos da “era de ouro” da aviação comercial, quando os aviões eram praticamente divididos meio a meio entre a primeira classe e a econômica.

Justamente no ano em que a classe executiva foi criada, a Varig foi premiada como a melhor companhia aérea do mundo, pela revista norte-americana Air Transport World. A empresa brasileira oferecia um refinado serviço de bordo, mesmo na classe econômica.

A classe executiva, normalmente com cerca de 30 assentos, reduziu drasticamente o tamanho da primeira classe, que nos anos 1960 e 1970 tinham bares, lounges e até música ao vivo. Em contrapartida, os preços para um voo com maior conforto e melhor serviço de bordo foram reduzido na mesma proporção.

No Brasil, o preço de uma passagem ida e volta de classe executiva para Europa com a Azul ou a Latam, únicas empresas nacionais que oferecem essa opção, varia de R$ 4.000 a R$ 5.000, cerca de um triplo do valor do bilhete para a classe econômica.

Viajando além da primeira classe

São poucas as companhias que voam para o Brasil com aviões equipados com primeira classe. Além da American Airlines, outros exemplos são alemã Lufthansa e o trio de Oriente Médio, Etihad, Qatar e Emirates Airlines, que oferece o voo mais caro do mercado brasileiro: a passagem de primeira classe no trecho São Paulo – Dubai custa fabulosos R$ 43 mil.

Ainda investindo alto na primeira classe, a Etihad foi além e criou um novo conceito de cabine, a “Residence”(Residência), disponível apenas no gigante Airbus A380 . O espaço, lançado pela companhia em 2014, é como um pequeno apartamento para apenas dois passageiros, com uma sala de estar, quarto com cama, banheiro com chuveiro e serviço de bordo realizado por um mordomo.

O “bilhete de ouro” da Etihad (para duas pessoas) não sai por menos de US$ 20 mil (cerca de R$ 64 mil). A companhia oferece esse serviço em voos com o A380 de Abu Dhabi para os EUA e países da Europa e Oceania.

O segmento também sobrevive no mercado de aviação dos EUA, inclusive em voos regionais. A American Airlines tem primeira classe nos jatos A321 que voam de São Francisco e Los Angeles para Nova York. “A empresa detectou essa demanda nos voos para Nova York, novamente procurado por altos executivos e clientes corporativos”, contou o diretor da AA no Brasil.

Os aviões com cabines de primeira classe que chegam ao Brasil costumam trazer mais passageiros do exterior, do que levar de volta a base original da companhia. Mesmo assim, continuam na ativa, afinal que veio na cabine de alto luxo faz o mesmo no retorno.

Enquanto houver demanda e espaço nos aviões, a primeira classe não vai acabar. Atualmente as companhias, mesmo voando com grandes jatos como o Boeing 747 e o Airbus A380, mantém no máximo 10 assentos na classe de luxo. Em aeronaves menores, como o Boeing 767 ou o A330, o espaço é reduzido para cerca de seis leitos.

Deleite para alguns e ferramenta de trabalho para outros, a experiência e praticidade de viajar de primeira classe só é superada por um voo executivo realizado em jatos luxuosos de alta performance. Quem pode pagar ainda mais, escolhe essa opção.

 

Fonte:  http://airway.uol.com.br/primeira-classe-quase-desaparece-nas-companhias-aereas/